quinta-feira, 27 de maio de 2010

« As RATAZANAS d' ÁGUA..., e as de HAMELIN (...) »

Não preciso de apresentações!
Acho que... as senhoras já se foram embora...!


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.Este livro do Hamelin... é a pior obra
da minha biblioteca!

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Considero-me um justiceiro natural:
- Inimigo figadal!

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Cadeirão ideal,... junto ao caixote do lixo
e perto do quiosque
para encontrar estes simpáticos animais.

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É do inglês Robert Browning a mais famosa recriação da história do Flautista de Hamelin, um conto que cedo ou tarde aparece em nossa infância. O poema de Browning é brilhante; melhor ainda é o acontecimento misterioso que jaz por trás dele, talvez um episódio histórico, talvez uma “lenda urbana” da Idade Média. Teria acontecido no século XIII ou XIV: o relato colhido pelos Irmãos Grimm fala em 26 de Junho de 1284, mas o poema de Browning situa o facto em 22 de Julho de 1376.

A cidade de Hamelin foi vítima de uma praga de ratos. As autoridades não sabiam mais o que fazer. Surgiu na cidade um sujeito que se apresentou como caçador-de-ratos (“Rattenfänger”), que era uma profissão informal muito comum na época.

Tocando numa flauta, atraiu os ratos da cidade até ao rio, onde todos se afogaram. Ao tentar receber o pagamento combinado, o Prefeito recusou-se a pagar. Ele pegou a flauta, tocou outra música e atraiu todas as crianças da cidade, levando-as até uma montanha próxima, onde uma caverna misteriosa se abriu para que todas entrassem.

E nunca mais ninguém teve notícias do Flautista ou das crianças. As crónicas históricas dizem que o episódio original envolveu apenas as crianças, e o extermínio dos ratos só foi anexado ao enredo alguns séculos depois.

A lenda é uma dessas que crescem por justaposição de novos episódios a um episódio inicial. Hamelin vive ainda hoje dessa lenda; durante o Verão, uma peça de teatro é montada ao ar livre para os turistas, todos os domingos. A cidade é cheia de estátuas, vitrais e monumentos recordando o Flautista.

Mas Hamelin não é a única. Brandenburgo conta a história de um tocador de realejo que levou as crianças da cidade para dentro de uma montanha; parece ser uma mera transposição de local, e não uma nova lenda.

Outra lenda diz que na cidade de Erfurt, em 1257, cerca de mil crianças se agruparam no centro da cidade, cantando e dançando, e partiram assim estrada fora, até chegarem em Arnstadt, onde foram recolhidas até que seus pais as trouxessem de volta.

História parecida com a de Hamelin é contada em Korneuburg, na Áustria, onde as crianças foram levadas num navio e vendidas como escravos em Constantinopla. Algumas versões dizem que a montanha onde as crianças sumiram (o monte Poppenberg) tinha um túnel que ia dar à Transilvânia, e elas passaram o resto da vida lá.

Episódios reais (pragas de ratos, a “Cruzada das Crianças”) podem ter servido de origem para a lenda, mas a sua longevidade deve-se sem dúvida a sua lição moral nítida (castigo pelo não-pagamento de um acordo), ao cruel nivelamento entre ratos e crianças, ao poder mágico da música, à imagem arlequim e enigmática do Flautista (que geralmente é descrito como vestindo uma roupa de faixas vermelhas e amarelas).

O final em suspenso, com uma pergunta que não é respondida ao longo dos séculos (para onde foram as crianças?) garante à lenda um mistério inesgotável.

Não obstante, nada se sabendo das crianças, alguma coisa poderemos adiantar sobre ratazanas. Há uns dias, tive uma discussão urbana com uns fulanos que se divertiam na via pública, pontapeando uma ratazana que tivera o azar de sair fora de uma sarjeta para apanhar ar. Indignado com a circunstância, não fui a tempo de evitar que o pobre bicho tivesse perecido aos ímpetos 'futebolistas' dos energúmenos, que me acharam parvo porque preocupado com o animal. Eles, pobres 'ratos' humanos, vingaram naquele minúsculo corpo as suas questões pessoais mal digeridas, e sentiam-se realizados como se tivessem acabado naquele instante com a peste bubónica naquela rua!

Comendo quase de tudo e reproduzindo-se rapidamente [quando não está a comer... está em acção reprodutora], a ratazana d'água é um dos sobreviventes mais bem sucedidos no mundo e uma das maiores pragas. Vive facilmente na maioria dos ambientes, alimentando-se de restos e alimentos deitados fora e especializou-se em doenças, lixos e danos, tanto na cidade, pequena aldeia ou quinta isolada, nunca vive muito longe das pessoas.

Apesar de recearem o humano, as ratazanas são criaturas sociáveis e vivem em grupos ruidosos.Quem já não ouviu histórias de ratos correios entre presidiários de cárceres?Durante o dia permanecem debaixo da terra, construindo os seus ninhos em túneis, esgotos, condutas, armazéns ou adegas. Onde quer que a terra seja macia escavam túneis interligados onde constroem câmaras que usam como ninhos. Mais activas durante a noite as ratazanas abandonam os ninhos para procurar alimento. Lutam por comida e direitos de acasalamento quando o espaço é limitado.

As ratazanas d'água têm hábitos destrutivos e são uma das maiores pragas mamíferas de todos os tempos. Não só destroem armazenamentos de alimentos e cereais, como fazem buracos em paredes, tubos e latões e mordem fios eléctricos podendo provocar incêndios.

A sua elevada taxa de reprodução também não ajuda. Só nos Estados Unidos cerca de 175 milhões de ratazanas provocam milhares de milhões de dólares de prejuízos anualmente.

Um prejuízo talvez menor do que as guerras que o rato do Tio Sam promove!

Os humanos nem sempre se protegem, é que as pilhas de lixo são verdadeiras iguarias para as ratazanas. Não só destrutivas, albergam bactérias e vírus que podem ser letais para os humanos. Também transportam pulgas que podem espalhar doenças graves como a peste bubónica e a febre tifóide.

Há poucos alimentos que uma ratazana d'água não seja capaz de comer. Tal como os cereais, carne, insectos e vegetais, também mordisca sabão e papel, e até é capaz de morder madeira e fio para conseguir chegar a recompensas mais apetitosas.

Reproduzir-se e alimentar-se são actividades que consomem muita energia, por isso as ratazanas têm um apetite insaciável. São capazes de consumir um terço do seu peso corporal em apenas 24 horas.

Reproduzindo-se rápida e furiosamente, uma única fêmea produz mais de 250 crias por ano. Três semanas depois de acasalar a fêmea dá à luz uma ninhada de bebés! Algumas horas depois, volta a acasalar!

As crias são desmamadas ao fim de três semanas - altura em que a ninhada seguinte está pronta para nascer. Embora seja frequente os machos lutarem uns com os outros pelo direito de acasalar.

A ratazana d'água deverá ter origem no norte da China. Ao longo de séculos esta criatura foi-se propagando por todo o mundo, inicialmente apanhando boleia em navios mercantes e, até companhia dos nossos navegadores antepassados dos descobrimentos marítimos.

Para além de terem descoberto novos mundos, também descobriram novos seres e, trouxeram-nos clandestinamente a bordo até nós!

Mas... que não seja por isso, que qualquer "fadista" lisboeta se ache no direito de esmagar a pontapé, os descendentes da rataria da nossa História!


4 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante o seu texto. Bom seria se surgissem alguns flautistas, com flautas encantadas, que fossem capazes de atrair políticos que não cumprem suas promessas de campanha, e pudessem levá-los para lugares onde nunca mais fossem encontrados.
Pensando bem, esses flautistas existem: são os cidadãos que votam corretamente, e as flautas encantadas são os seus votos. Pena que existam tão poucos flautistas para tantos ratos.

César Ramos disse...

Lúcia,

Obrigado pelo seu comentário que conseguiu ultrapassar o texto nos objectivos pragmáticos de paralelo social.
É verdade: pena que existam tão poucos flautistas para tantos ratos!

Cinha disse...

Bom Dia

Subscrevo o que diz Maria Lúcia Marangon e acrescento:

Não adoro esses animaizinhos, se eles me aparecessem em casa!
Mas alimentei várias gerações:
- As de pelo cinzento, suas ninhadas, com o milho e restantes sementes e rstos de comida, nas capoeiras.
- Os/as outras espécies muito mais perigosas que nos consomem o ouro, os imóveis,as reformas, ordenados, os nossos direitos,nos comsomem a paci~emcia, a saúde, a vida, nos hipotecam, nos ROUBAM, e não há FLAUTA por mais mágica que nos valha, a não ser RATICIDA POPULAR.

Abraço

RC disse...

As ratazanas são uns bicharocos horríveis (aquele rabo... brrrr) mas pior do que a estética, são importantes transmissores de doenças mas bom...mesmo assim não andaria aos pontapés às ditas porque os meus gatos tratam-lhes da saúde melhor que ninguém.
Quanto ao comentário final da Cinha (Gracinha, pensavas que eu não te reconhecia?!lol), não posso estar mais de acordo. Abaixo estas "ratazanas" manhosas que se vestem de fato e gravata e vãos-nos roendo até ao osso.