quinta-feira, 7 de julho de 2011

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VINICIUS  DE  MORAIS
(1913 - 1980)


Sinto-me só como um seixo 

de praia



 
Sinto-me só como um seixo de praia
Vivendo à busca no cristal das ondas,
Não sei se sou o que não sou. Pressinto
Que a maré vai morar no fundo d'alma.

 
Calo-me sempre se te escuto vindo
Marulho de incerteza e de agonia;
Há crenças deslizando nos meus traços,
Molhando a estátua do meu sonho antigo.

 
Declino-me nas frases dos rochedos
Nas pérolas de som do inesquecer
Na incrível sombra da montanha adulta.

 
E ao me curvar ao peso da memória,
Descubro meu reflexo obscuro
Num soneto de espumas inexactas




Vinicius de Moraes